No cotidiano empresarial, por vezes, podem acontecer alterações no quadro societário. Este tipo de movimento pode contar com entradas e saídas de sócios ou até venda total do negócio. E isto que impacta diretamente na participação dos sócios de cada membro do quadro. Aí surge a pergunta para resolver essa questão: quanto vale sua empresa?
As alterações societárias, apesar de serem até frequentes, por vezes geram turbulências na sociedade empresária, com conflito de sócios e gerando potenciais problemas na gestão do negócio.
Um dos fatores que podem complicar nestes casos é a apuração valor da participação dos sócios que estão saindo, ou o percentual da participação societária que o sócio entrante terá com seu aporte de recursos.
Desta forma, temos que buscar entender quanto vale sua empresa realmente. E também, por consequência, definir a participação dos sócios neste cenário. Neste momento, vejo alguns equívocos por parte dos indivíduos e empresas que estão realizando esta transação.
Erros ao determinar quanto vale sua empresa
1. Valoração pelo Patrimônio Líquido
O primeiro equívoco é trabalhar com a valoração da empresa pelo Patrimônio Líquido, destacado na contabilidade do negócio. Este valor de PL reflete apenas o passado das empresas, sem evidenciar o que está por vir. Por exemplo, caso esta empresa tenha acabado de lançar um produto/serviço inovador – como uma startup, por exemplo – seu PL atual não traduz os resultados que estão por vir.
2. Não analisar a continuidade da empresa
Ainda relacionado ao primeiro item, outro aspecto que deve ser analisado é se a empresa continuará ou haverá o encerramento. Caso a empresa seja descontinuada, provavelmente ocorrerá a dissolução total da sociedade. Assim, a empresa deve ser liquidada com todos os seus passivos sendo pagos com a venda de seus ativos. Ocorre que estes ativos serão vendidos a valor de mercado (valor justo), que podem diferir dos seus valores contábeis. Esta potencial diferença nos mostra por que o PL contábil pode ser discrepante da real sobra de recursos a serem distribuídos aos sócios.
Por exemplo: basta imaginar a atual sede da empresa que está totalmente depreciada na contabilidade da empresa. Mesmo assim, ela será vendida por uma boa quantia, tendo em vista sua localização. Por outro lado, se estamos discutindo uma empresa em continuidade, trabalhar com a valoração da empresa pelo Patrimônio Líquido que está destacado na contabilidade da empresa é um grande erro.
3. Decisão errada pode prejudicar o sócio
Caso o sócio que esteja saindo aceite seu valor de saída pela proporção do PL contábil, está deixando para os demais integrantes do quadro societário sua parte no valor da marca da empresa (que não está mensurada no PL), do seu percentual da carteira de clientes (que não é um ativo contabilizado) e até mesmo a expectativa de rentabilidade futura da empresa (Goodwill).
4. Uma alternativa, mas não a melhor
Uma das formas de resolver a questão seria a realização de um Balanço de Determinação. Neste modelo é definida uma data base e se avaliam todos os itens do ativo (bens e direitos) e do passivo a preço de saída. Desta forma, o Balanço de Determinação seria uma Foto (algo estático) da empresa em seu estado atual. Porém, levando em consideração ativos e passivos a preço de saída. O problema neste caso é a dificuldade de se estimar a Expectativa de Rentabilidade Futura/Ágio/Goodwill da empresa analisada.
Fluxo de Caixa Descontado: a opção mais justa
Neste cenário, acredito que o Fluxo de Caixa Descontado (FCD) é a melhor forma de se avaliar uma empresa em continuidade, inclusive sendo aceito pelo STJ (REsp 1.335.619-SP).
O FCD leva em consideração a empresa em continuidade. Ou seja, projetando receitas, despesas e custos do negócio e os trazendo a valor presente. Isso em conjunto com os ajustes de caixa necessários.
Com a técnica do Fluxo de Caixa Descontado a empresa é valorada em todo seu potencial. Assim, esta se caracteriza como uma forma mais justa de se determinar participações societárias e quanto vale sua empresa. Feita esta avaliação, quem está saindo recebe o que lhe é de direito. Já quem está entrando tem o valor que deve aportar para a equivalência da continuidade do negócio junto aos sócios mais antigos.
Contudo, vale o registro de que esta avaliação deve ser feita por um profissional capacitado. Ele deve saber estudar o mercado de atuação de sua empresa e particularidades do seu negócio.
* Este post foi escrito pelo nosso parceiro Aziz Xavier Beiruth, da AZ Finanças Corporativas. Aziz é Doutor em Controladoria e Contabilidade (FEA-USP). Caso tenha mais dúvidas sobre o assunto ou queira se aprofundar mais neste tema, entre em contato: aziz@azfinancascorporativas.com.br